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Bifrenaria atropurpurea |
Bifrenaria atropurpurea é uma
espécie de
orquídea epífita de
crescimento cespitoso que só existe do
Espírito Santo,
Rio de Janeiro e
Minas Gerais, no
Brasil, onde habita florestas úmidas. Pertence ao grupo das
Bifrenaria grandes, as quais nunca foram classificadas nos gêneros
Adipe ou
Stenocoryne. Pode ser facilmente reconhecida por suas flores comparativamente pequenas de cor púrpura com manchas amarronzadas e pelo calcar na base de seu labelo, que se curva ligeiramente para trás.
O gênero
Bifrenaria tem sido tradicionalmente classificado na subfamília
Epidendroideae, tribo Maxillariae, subtribo Bifrenariinae, no entanto os relacionamentos entre os vários gêneros desta tribo não estão bem definidos e mudanças são esperadas para os próximos anos. O gênero mais próximo de
Bifrenaria é
Rudolfiella. Outros gêneros relacionados são
Teuscheria,
Guanchezia,
Hylaeorchis e
Horvatia, e os mais distantes
Scuticaria e
Xylobium. Recentemente foi sugerida a unificação das subtribos Lycastinae, Maxillariinae e Bifrenariinae, no entanto, ainda não há consenso sobre o caminho a ser seguido. Ao contrário do que sempre se pensou, o relacionamento de
Bifrenaria com todos estes gêneros da
América Central parece indicar uma primitiva origem centro-americana e sua posterior disseminação até o sudeste brasileiro, onde encontrou campo fértil para sua diferenciação mais recente.
Em 2000, foram realizados os primeiros estudos moleculares mais completos das espécies de
Bifrenaria. Dezesseis espécies deste gênero e seis de gêneros próximos foram estudas em busca da confirmação de seu posicionamento filogenético, bem como da delimitação das espécies e de cada um de seus grupos. Os resultados obtidos não permitem a aceitação do gênero
Stenocoryne e, apesar de confirmarem a monofilia de
Cydoniorchis, desaconselham sua aceitação sob pena de terem de ser criados seis outros gêneros para acomodar as quinze espécies restantes. Bem como discutem a conveniência de separar duas espécies tão similares e variáveis, com muitas formas intermediárias de difícil delimitação, como as
B. charlesworthii e
B. racemosa. É confirmado ainda o posicionamento da
B. steyermarkii fora deste grupo.
Distribuição
As
Bifrenaria existem desde o norte da
América do Sul, uma espécie também em
Trinidad, até o
Rio Grande do Sul, no entanto divididas por duas áreas isoladas: a
Floresta Amazônica, e a região da
Mata Atlântica do
Brasil. Esta última, onde dezessete espécies se fazem presentes, pode ser considerada seu centro de dispersão recente. A área montanhosa dos estados do Rio de Janeiro e
Espírito Santo é particularmente rica, com quinze espécies registradas. A
Serra dos Órgãos no
Estado do Rio de Janeiro é referenciada como habitat de catorze das
Bifrenaria. No entanto sabemos hoje que algumas destas espécies são sinônimas,
sendo mais provável que ali estejam cerca de onze espécies.
As espécies de flores grandes são mais comuns na região sudeste do Brasil, contudo, existem desde as áreas mais iluminadas do litoral até áreas montanhosas bem iluminadas dos estados de
Minas Gerais e
Bahia, desde quase o nível do mar até cerca de 2.000 metros de altitude, algumas espécies atingindo até o
Rio Grande do Sul. Não há espécies deste grupo na
Amazônia. Algumas espécies vivem apoiadas diretamente nas pedras do
Pão de Açúcar no Rio de Janeiro as quais podem ser observadas pelos passageiros que pegam o
bondinho. Os centros recentes de irradiação deste grupo são a zona litorânea da
Serra do Mar e as altas serras de Minas Gerais. A espécie mais comum deste grupo, dispersa desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, é a
B. harrisoniae.
As espécies menores, do grupo
Adipe, são mais comuns em áreas menos iluminadas e mais úmidas, podendo ser encontradas de 300 até cerca de 1.600 metros de altitude.
5 Seis espécies são nativas das montanhas da Serra do Mar e seus braços, local considerado o centro de dispersão das espécies pequenas. Apenas três espécies habitam a Amazônia, a
Bifrenaria venezuelana,
B. longicornis e a
B. steyermarkii, nenhuma delas em altitudes acima de 1.450 metros, apesar de serem muito mais comuns em baixas altitudes. A espécie mais comum é a
B. aureofulva, no entanto, pela conformação geográfica do território que habita, a
B. longicornis é a espécie espalhada por maior área, atingindo a
Colômbia,
Venezuela,
Peru,
Suriname,
Guianas, Trinidad e toda a área amazônica do Brasil.
Discrição
As
Bifrenaria são plantas de
crescimento simpodial que variam entre 10 e 60 centímetros de altura, geralmente bastante robustas. As qualidades comuns a todas as espécies, necessárias para serem classificadas neste gênero são: apresentarem
raizes carnosas de seção redonda com espesso
velame;
pseudobulbos tetragonados, igualmente carnosos, de internodo único, normalmente guarnecidos por bainhas secas na base, e uma só folha no ápice, excetuada a
Bifrenaria steyermarkii, que ocasionalmente apresenta duas; folhas plicadas nervuradas, de consistência coriácea, porém normalmente maleáveis e não muito espessas, com pseudo-pecíolo de seção redonda na base; inflorescências basais, ou seja, que brotam da base dos pseudobulbos, não de suas extremidades, comportando geralmente até dez flores e muito raramente ultrapassando o comprimento das folhas.
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As flores de
Bifrenaria são perfumadas ou apresentam forte odor, têm sépalas um pouco maiores que as pétalas, as sépalas laterais são unidas na base, com o pé da coluna originando um calcar de extremidade truncada; labelo de formato variável, frequentemente piloso, articulado com a coluna, no centro dotado de calosidade canaliculada longitudinal muitas vezes apresentando uma garra na base; coluna levemente arqueada, geralmente sem asas ou outros apêndices, dotada de pé onde se prende o labelo; apresentam dois estipes muito longos, raramente um, pelo menos duas vezes mais longos que largos, com
viscídio proeminente,
caudículos definidos e
retináculo em posições invertidas; quatro
polínias rígidas superpostas, protegidas por
antera decídua incumbente. As cápsulas são verdes, eretas ou pendentes, demoram cerca de oito meses para amadurecer e comportam centenas de milhares de sementes amareladas ou amarronzadas, alongadas, medindo até 0,35 milímetros de comprimento.
Entre todas as citadas acima, a principal característica que distingue
Bifrenaria dos gêneros próximos está na presença do esporão ou
calcar com extremidade obtusa ou truncada de suas flores. Também são características importantes seus
pseudobulbos com quatro lados mais ou menos visíveis e folhas únicas, nervuradas, pseudo-pecioladas; além da inflorescência sempre
racemosa brotando da base do pseudobulbo maduro, com duas a dez flores.
Pouco se sabe sobre a polinização das espécies de
Bifrenaria, aparentemente os únicos registros sobre este assunto existentes na literatura relatam a presença de polinários de algumas das espécies grandes observados nas costas de machos de abelhas
Eufriesea violacea (Euglossini) Euglossinae, e de
Bombus brasiliensis (Bombini). Apesar de não haver informações sobre a observação direta da polinização de suas flores, um estudo publicado em 2006 analisou a micromorfologia do labelo de espécies de
Bifrenaria em busca de substâncias possivelmente utilizáveis pelos
insetos como alimento. A ausência destas substâncias na composição da superfície densamente pubescente da maioria das
Bifrenaria de fato indica a possível polinização por
abelhas grandes como as citadas acima. Outro indicador desta possibilidade é o forte odor exalado por algumas espécies, por exemplo, a
B. tetragona, similar ao de outras flores polinizadas por estas abelhas. As espécies pubescentes menores podem ser polinizadas por abelhas menores e as que apresentam menos pelos e coloração acentuada, como a
B. aureofulva, por
beija-flores.
Cultivo
Depois de aclimatadas as
Bifrenaria são plantas razoavelmente fáceis de cultivar, devem ser plantadas preferencialmente em vasos de barro sobre
substrato de fibras vegetais muito bem drenadas, pois suas raízes e pseudobulbos apodrecem com facilidade se mantidos úmidas por muito tempo. Conforme mencionado acima, e em acordo com a origem de cada espécie, três são os ambientes necessários para cultivar estas plantas com sucesso. As espécies grandes necessitam de mais
luz que as restantes. As espécies pequenas, do sudeste do Brasil, devem ser cultivadas na mesma
temperatura média das grandes, porém submetidas a 10 a 20% menos
luminosidade. As espécies da Amazônia precisam de temperatura e
umidade maiores e mais constantes que as outras. Todas as espécies devem ser regadas e
adubadas com maior frequência durante seu período de
crescimento.